30 outubro 2024 - Dia Nacional da Prevenção do Cancro da Mama
O cancro da mama é uma das doenças com maior impacto na nossa sociedade.
Em Portugal, por ano, são detetados cerca de 9.000 novos casos de cancro da mama, sendo que 1% é nos homens.
Apesar da investigação científica continuar a esclarecer questões relacionadas com o cancro da mama e serem descobertos novos dados acerca das suas causas e novos modos de prevenir, detetar e tratar esta doença, ainda morrem mais de 2000 mulheres, anualmente, no nosso país.
Enquanto elementos desta equipa, já nos deparamos de forma direta ou indireta, com as suas implicações ou perdas, quer na família, amigos ou utentes. Na NC Abrantes consideramos importante assinalar este dia, não só por se tratar do Dia Nacional de Prevenção do Cancro da Mama e por tudo aquilo que ele simboliza, mas acima de tudo para nos recordar que a vida é um bem precioso, que a qualquer instante pode ser posto em causa.
Em jeito de homenagem, partilhamos o testemunho de colegas e utentes que viveram na primeira pessoa a doença e que são o reflexo da capacidade e das dificuldades que muitos homens e mulheres passaram ou estão a passar.
Maria José Sénica – 58 anos, colaboradora da Fresenius Medical Care. Começou a trabalhar na NephroCare Almada em maio de 1990, tendo posteriormente pedido transferência para a NephroCare Abrantes, onde se encontra a exercer as suas funções, desde junho de 2009 até hoje.
Recebeu o diagnóstico de cancro da mama em setembro de 2014, após a realização da mamografia de rotina, em junho de 2014, no Rastreio Móvel da Liga Portuguesa contra o Cancro, do Instituto Português de Oncologia (IPO).
Sem conhecimento de antecedentes familiares de doença, esta mãe de dois filhos, na altura um deles menor, encarou a situação como mais um desafio difícil a ultrapassar, na sua vida já bastante marcada por outros problemas de saúde.
Passou por todos os processos com muita resiliência, coragem e positividade, desde a mastectomia unilateral, aos tratamentos de quimioterapia e radioterapia. Encontra-se, atualmente, em fase de reconstrução mamária, no Hospital de S. José.
Maria José considera que “o facto de ter realizado mamografia de dois em dois anos foi de extrema importância, porque apesar de se tratar de um tumor de Grau 4, o prognóstico era bom, porque não havia metástases”.
Para o futuro, deseja receber a tão esperada notícia da remissão completa/cura da doença, para poder acompanhar as suas netas, que considera ser um dos maiores presentes da vida, dando-lhe força nos piores momentos que passou.
Maria Batista Lopes Rosa – Utente da NC Abrantes, desde 2 dezembro de 2019, foi diagnosticada com cancro da mama aos 68 anos de idade.
Maria Rosa fazia mamografia anualmente, através do seu Centro de Saúde. Em 2015, o médico radiologista ao observar o seu exame mostrou preocupação e alertou para a possibilidade de um nódulo maligno. O diagnóstico foi confirmado dias depois, pelo seu médico de família, que rapidamente a encaminhou para o IPO de Lisboa. Realizada a biópsia e com resultado positivo, deu início a um processo, que se veio a confirmar difícil e muito longo. Com a única filha a residir em Lisboa, mudou-se com o marido, para sua casa, onde permaneceu cerca de oito meses, tendo passado por duas cirurgias, tratamentos de quimioterapia e radioterapia.
Questionada sobre a forma como lidou com a doença, assume “que não sou pessoa de ficar revoltada com nada e por isso nunca me questionei ‘porquê eu’ ou tentei arranjar justificação para a minha dor”. Refere que aceitou a doença porque “sou uma pessoa de muita fé e com uma família extraordinária, que me apoia em tudo, desde a minha filha, genro e netas e acreditei que as coisas iam correr bem”. E o marido? Esse foi o que mais sofreu. Diz muitas vezes a chorar que foi uma bomba que lhe caiu em cima, mas tudo se ultrapassou…”. Sobre a equipa multidisciplinar do IPO, só tem a dizer “coisas boas dos médicos, enfermeiros e auxiliares”.
Sobre a prevenção da doença, alerta para a realização de exames de rotina, “pois mesmo eu fazendo regularmente apareceu, só que numa fase inicial e por isso ainda foi a tempo.”. Para ajudar na recuperação e a lidar melhor com as implicações inerentes à doença, aconselha as pessoas a procurarem ajuda “na Psiquiatria e na Psicologia”.
Maria Manuela Gaspar – é enfermeira numa Unidade de Saúde Familiar na cidade de Abrantes e presta serviços de enfermagem na área da hemodiálise há cerca de 32 anos. Primeiro na zona de Lisboa e, desde 1 março de 2002, na NC Abrantes.
Em março de 2022, a Enf. Manuela foi contactada telefonicamente pela Liga Portuguesa Contra o Cancro do IPO de Lisboa e foi informada que a sua mamografia tinha alterações, passiveis de ser cancro da mama. Realizada a biopsia, viria a confirmação de se tratar de um tumor maligno de origem hormonal, que apesar do tamanho reduzido, teria de submeter-se a uma cirurgia parcial e tratamentos de radioterapia. Mais tarde, a equipa médica considerou importante a realização de quimioterapia.
Esta profissional de saúde explica que não foi o diagnóstico em si que a revoltou, mas sim “o tempo de espera entre os vários procedimentos. Por exemplo, entre o resultado da biópsia e a cirurgia passaram-se quatro meses”. Como enfermeira que é, sabe que as coisas levam o seu tempo, principalmente tratando-se de um processo de doença oncológica. Contudo, saber que se tem um cancro e que o tempo é determinante no sucesso do seu tratamento e/ou respetiva cura fez com que os dias parecessem meses e os meses anos.
Acerca da prevenção, considera muito importante a realização de exames de diagnóstico. No entanto, no seu caso e apesar de sempre os ter feito, as lacunas existentes no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e a escassez de respostas mais céleres fizeram com que a doença tivesse evoluído ligeiramente, desde o seu conhecimento, até à remoção do tumor e início dos tratamentos. Relativamente ao auto teste ou palpação mamária, enquanto enfermeira de cuidados de saúde primária aconselha todas as suas utentes a fazê-lo, pois “devemos conhecer o nosso corpo, porque se o conhecermos mais facilmente nos apercebemos de alguma alteração que possa surgir”. Reconhece que "o corpo e o conhecimento dele continua a ser um assunto tabu, mas é importante falar dele” e refere ainda que“mesmo que numa fase muito precoce da doença nem sempre nos apercebamos da presença de um nódulo ou outra alteração, fazendo a palpação de forma regular vamos mais cedo ou mais tarde perceber que algo não está bem”.
Para o futuro, deseja que “as pessoas que estão a passar por este problema não sejam colocadas perante situações em que tenham de tomar decisões sobre o seu estado, como, por exemplo, a decisão de optar por fazer tratamentos, no sector de saúde privado ou público, em consequência da demora na resposta por parte do SNS”. No seu caso, optou pelo IPO de Lisboa, mas os desafios foram vários e por vezes passou por algum tipo de pressão, para que enveredasse pelo privado.
Filipa Cristina Silva – 43 anos, utente da NC Abrantes desde março de 2023. História de Diabetes Mellitus tipo 1, desde os três meses de idade.
Com 40 anos, em mamografia de rotina, foi informada “quetinha quistos na mama esquerda e que precisava fazer exame de seis em seis meses, para ver se estes se desenvolviam. Fui vigiada durante três anos no Hospital de Abrantes até que, na última mamografia, o médico me disse que o quisto tinha crescido muito e aconselhou-me a ir para o IPO de Lisboa. Uma semana depois consegui uma consulta e a seguir fiz biópsia. O resultado da biópsia deu um carcinoma invasivo de grau 2. Fiz mastectomia da mama esquerda e, como os meus rins já não estavam bem, a médica não me aconselhou fazer quimioterapia. Fiz 35 sessões de radioterapia”.
Sobre o processo pelo qual passou, diz que foi muito difícil, porque “aconteceu tudo na pior fase da pandemia. Fui operada em março de 2021 e tinha medo de apanhar covid-19, pois estava muito debilitada. Mas, apesar do medo, eu dizia à minha família que ia ultrapassar tudo. Depois da cirurgia, chorei muito quando me vi pela primeira vez ao espelho. Senti-me um monstro e tinha medo que o meu marido deixasse de gostar de mim. A minha vida sexual alterou-se muito, porque tinha dificuldade em aceitar-me. Eu que até tinha um corpo bonito, sentia-me estranha e num corpo que não era o meu. Mas sabe, o tempo foi passando e eu percebi que quem gosta de nós fica. Estou casada há 20 anos e hoje levo uma vida normal. Vivo um dia de cada vez e aproveito o máximo que posso. Com a doença aprendi a dar mais valor à vida e passei a desvalorizar as coisas materiais. A família e os amigos são o mais importante para mim”.
Atualmente, a Filipa é seguida no Hospital de Santa Maria em várias especialidades médicas, pois numa pesquisa genética que realizou após o diagnóstico do tumor descobriu que é portadora de Síndrome de Birt-Hogg- Dubé. Trata-se de uma síndrome hereditária rara com predisposição para cancro, caracterizado por lesões cutâneas, tumores renais e quistos, pelo que não tem indicação para transplante renal.